Projecto Excalibur - Datsun 120Y Van-M (VLB210) (actualizado - 2012-08-06)

Iniciado por qyron, 13 de Novembro de 2010, 19:03

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qyron

Finalmente, após uma luta de vários meses, a minha carrinha chegou ao lugar onde - espero - vai renascer, após um processo que se adivinha longo, penoso e muito trabalhoso.

Não vou repetir aquilo que já foi dito na minha apresentação (ver aqui), por isso vou aproveitar esta abertura de tópico para falar um pouco sobre a própria carrinha e aquilo que ela fez sentir a mim e à minha companheira, no dia em que a conhecemos e no dia em que já debaixo da nossa asa nos sentámos nela e começámos a preparar o seu renascimento.

A carrinha esteve parada cerca de 4 anos debaixo de uma árvore e encostada a um morro de terra, pelo que no dia em que a fomos conhecer olhar para ela foi como olhar para um cadáver: estava morta, vazia, despida de dignidade. Era um objecto vulgar que tinha ultrapassado a sua utilidade para o seu dono e que agora o deixava (e deixava-se) desfazer esquecida a um canto.

Não gostei do que vi. Não gostámos, pois éramos dois a olhar. Não decidimos logo. Disse-se que se ía pensar. Mas no momento que nos preparávamos para virar costas e muito provavelmente nunca mais lhe pôr a vista em cima houve algo que me fez olhar para trás. E vi uma faísca, um brilho, um desejo de vida reluzir por um momento naquela carcaça moribunda. Disse naquele mesmo momento que era minha. Apertaram-se mãos e chegou-se a acordo.

Demorou 6 longos meses para aquela carrinha chegar a casa, tempo em que tudo o que podia ter corrido mal correu. Perdi o meu avô materno. Fui pai. Envelheci anos em dias e ganhei uma nova vida quando conheci a nova vida que ajudei a pôr no mundo.
Entretanto tive de lidar com as suspeitas de um proprietário que desconfiava de uma proposta sincera e que me dizia que preferia mandar o carro para a sucata do que entregá-lo sob condições que não fossem as dele. Foi um braço de ferro. Joguei sujo quando tive de o fazer e virei o jogo nas alturas certas e até nas erradas, para não perder aquele sonho. No final, ganhei.

Finalmente, no dia 9 de Novembro, Terça-feira, fomos buscá-la. Tive de a desatolar de um lodaçal barrento onde ficava preso até aos tornozelos. Foi arrastada e empurrada, à força e à bruta, para fora daquela sepultura prematura e não se lhe ouviu um queixume, ao contrário do reboque que gemeu e bufou do esforço e debaixo da carga que recebeu. Achei justo. Choviam canivetes quando subiu para o reboque e na minha mão caiu a declaração de compra e venda. Era minha finalmente. Depois de uma viagem curta, debaixo de uma chuva intensa, que martelava os vidros dos carros, chegou à oficina de cara lavada, com muito do lixo que a cobria tendo ficado para trás.

Três dias depois, voltei a ir vê-la. Conhecê-la, por dentro e por fora. Ver as surpresas que me aguardavam, boas e más. Não encontrei o mesmo carro. Já não era o cadáver que me aguardava. Encontrei um carro sujo e cansado, severamente mal tratado, mas com um desejo de viver a pulsar nele, a olhar para a estrada que se estende a poucos metros de distância e a desejá-la.

Abri a porta do condutor e sentei-me no banco rasgado e velho. Toquei no volante baço e ressequido e passei os dedos pelo tabliê rachado e empoeirado. E senti força. Senti o respirar de uma fera que jaz adormecida e que abre um olho para nos encarar, para avisar que dorme mas vigia. Que espera.

É chegada altura de devolver a velha fera à estrada.

Uma mente livre está aberta a novas ideias.

qyron

#1
Conheço-me demasiado bem e se simplesmente disser que vou restaurar a carrinha vou perder-me, porque com tanta coisa que há para fazer - porque sou eu que quero fazer a grande parte do restauro - vou acabar por me dispersar e por perder o foco na tarefa que tiver em mãos. Além do mais, como a vida não está especialmente fácil, vai ajudar a também concentrar esforço numa única coisa em vez de estar a "estoirar" dinheiro em muita coisa ao mesmo tempo.

A última vantagem disto é que quem estiver a acompanhar isto, também vai poder "ver" o que há para fazer e dar dicas, quer para os trabalhos a fazer quer para a ordem em que devem ser feitos. :)

1) trazer a carrinha para a oficina - feito
2) alteração do registo de propriedade - feito
3) avaliação do estado geral da carrinha - feito
4) rodados: substituir todos os pneus da carrinha - feito
5) construir a tenda de protecção - anulado
6) início dos trabalhos
Exteriores

  • remoção dos retrovisores e pára-choques
  • capot
  • dianteira
  • pára-lamas esquerdo
  • pára-lamas direito
  • porta do condutor
  • porta do pendura
  • porta da bagageira
  • tratamento da sub-estrutura do suplente

Interiores

  • remoção dos bancos
  • renovação e estofagem do banco do condutor
  • renovação e estofagem do banco do pendura
  • renovação e estofagem do banco traseiro, com acréscimo de cabeceiras
  • remoção do tabliê
  • arranque dos estofos e tapetes

Chassis

  • decapagem dos interiores da carrinha
  • reparação de eventuais podres

Mecânica

  • levantamento do motor e caixa de velocidades
  • desmancha do veio da transmissão
  • desmancha do eixo traseiro
  • renovação da suspensão - dianteira
  • renovação da suspensão - traseira
  • revisão e renovação do sistema de travagem
  • revisão geral do motor
Uma mente livre está aberta a novas ideias.

qyron

#2
Vou tentar manter uma série de galerias o melhor organizadas nesta mensagem, separadas por título, para evitar estar a espalhar imagens pelo tópico, de modo a criar um único local de consulta das imagens da carrinha.

Saída da Tumba e chegada à Base
Como dá para ver, a carrinha estava basicamente abandonada para morrer. Passou 4 anos debaixo de um castanheiro e encostada a um morro de terra, que chegou a enchê-la, pelo que me foi dito, pois num ano a terra abateu e entrou pela janela do pendura que estava aberta. Chamo atenção para o pormenor dos pneus do lado esquerdo estarem em baixo.


O reboque suou e bufou, quer para a carregar, quer para a descarregar, com o motor do guincho a chiar para a subir e a placa a guinchar por todos os lados para a receber. Felizmente, os meus receios de que ela não suportasse os maus tratos não se concretizaram; não se lhe ouviu um único queixume.


Já no local onde vai passar os próximos tempos. Tirei as fotos à pressa, só para ter algumas imagens para ver e apreciar.
Apesar de coberta de verdete e algum musgo, não se vêm grandes pontos de ferrugem nem danos por aí além.



Exteriores
Os exteriores não me metem especialmente medo. Não é visível nas imagens, mas a carrinha sofreu uma má tentativa de repintura e tem riscos e gotas de escorrimento na tinta. Como é tudo para sair, não há problema.
A nível de chapa, a única grande mossa visível é o pára-lamas esquerdo, que foi metido dentro por um tractor! Felizmente, foi um encosto e não uma pancada séria. As embaladeiras também têm muita ferrugem junto às cavas, portanto acho que é muito provável que venham a sair.




Portas e interiores
As portas, à excepção de serem um bocadinho teimosas para fechar, parecem estar muito bem. Até as borrachas parecem relativamente novas, sem pontos ressequidos nem estrias. Os forros estão sofríveis, no meu ponto de vista, mas os bancos têm de ser completamente estofados de novo. Um pormenor: o banco de trás não é o de origem, mas o de origem vinha na bagageira, tão roto como o do condutor.



Bagageira e Motor
Aqui as coisas já mudam de figura. A bagageira tem uns pontos que me inspiram cuidado, no friso do chão. Já andei a testar com umas pancadas secas na chapa e tudo o que saltou foram camadas requeimadas de tinta, mas algo me diz que é para cortar e soldar novo.

No motor, a coisa que mais salta à vista é o braço do motor de arranque soldado "às 3 pancadas" (vou mandar fazer um em inox ou então em aço e mando lacar a preto) e a torre do amortecedor esquerdo, que tem o topo todo comido de ferrugem. Esperemos que seja só superficial e que quando a lateral sair não esteja uma longarina completamente retorcida a olhar para mim, cheia de betume de pedra.  


É o que há para trabalhar!
Uma mente livre está aberta a novas ideias.

Bruno Pereira

muito bom:) grande historia :) vou seguir com entusiasmo este restauro.
E uma bela carrinha sem duvida.
Como estava em nivel de chapa?
Honda the powers of dreams ;)

metralha328


Flyingtiger

Grande Entusiasmo, grande viatura, desejo-te um GRANDE restauro :lol

Esta-mos cá para ajudar, vai dando informação (e fotos) da evolução deste projecto. :green:

Força nisso :thumbsup :thumbsup
José Tavares  - -  A melhor descompressão que poderás ter, será sempre a "compressão" do pedal direito.

qyron

Só respondo agora porque estive (estou) de molho e optei por só acabar de preencher as minhas mensagens de abertura do tópico antes de começar a "alargar-me" na conversa, também porque espero que com tudo o que deixo escrito naquelas primeiras mensagens já deixe muitas perguntas pelo menos meio respondidas.

Antes de mais, agradeço (agradecemos) muito o incentivo que nos estão a deixar aqui estampado.

A nível de chapa, à excepção das embaladeiras, do friso da mala e da torre do amortecedor esquerdo dianteiro (esta com muito mau aspecto) a carrinha não parece muito mal de chapa. Andei de volta dela enquanto tirava as fotos a testar a chapa com umas pancadas secas e não detectei pontos ocos debaixo da tinta.

O motor, à vista, o que mais suspeitas me inspira é a acumulação de óleo coagulado à volta do tampão (que pode estar ali apenas porque quem vazou o óleo para lá era desastrado) e uns coágulos espessos mesmo na face interior do capot, que só acho que possam lá ter ido parar se por acaso a carrinha ferveu o óleo e o cuspiu para cima ( o que a ser verdade muito provavelmente implica um motor nas lonas...). Tirando isso, e a acreditar que a quilometragem marcada é real, o motor deve estar basicamente novo: 61079km.

Estejam à vontade para ler o roadmap para os trabalhos e dar sugestões e dicas.
Uma mente livre está aberta a novas ideias.

Umtali

Citaçãoa coisa que mais salta à vista é o braço do motor de arranque soldado "às 3 pancadas" (vou mandar fazer um em inox ou então em aço e mando lacar a preto)

Suponho que falas não do motor de arranque mas sim do alternador ... se assim for, não percas tempo! Há montes de material de motor por aí  :thumbsup


CitaçãoO motor, à vista, o que mais suspeitas me inspira é a acumulação de óleo coagulado à volta do tampão (que pode estar ali apenas porque quem vazou o óleo para lá era desastrado) e uns coágulos espessos mesmo na face interior do capot, que só acho que possam lá ter ido parar se por acaso a carrinha ferveu o óleo e o cuspiu para cima ( o que a ser verdade muito provavelmente implica um motor nas lonas...). Tirando isso, e a acreditar que a quilometragem marcada é real, o motor deve estar basicamente novo: 61079km.


O motor é a ultima coisa a ir nos Datsun, por isso esta descrição leva-me a querer que talvez houvesse negligência por parte do antigo dono e por ventura, terá andado com o carro mesmo sem a tampa do óleo   :wall

Atenção que os "61079 km" podem significar "161079 km"  :assobio


Agora, força nesse restauro que nós cá estamos para apoiar no que for preciso  :thumbsup

João Freire - Sócio AJA nº 11

Tractortp

" Atenção que os "61079 km" podem significar "161079 km" "  :assobio


....... 261.079 Kms, 361.079 Kms ou........    :lol


Vê bem a chapa, com olhos de ver, a minha KE26 parecia estar boa e..................  :tijolos

Força com o projecto, a carrinha é linda.   :thumbsup

qyron

É o que dá ser-se um completo novato nestas andanças: é realmente o braço de apoio do alternador que tem de ser substituído. :assobio

De momento não estou especialmente preocupado com comprar novo: a parte mecânica só vai começar a ser trabalhada depois de os trabalhos na carroçaria estarem completos ou muito avançados, mas como pretendo pôr a carrinha "a dieta", um braço em aço será mais leve e manterá o coeficiente de rigidez suficiente para suportar o peso do alternador sem problemas.

A verdadeira quilometragem da carrinha também algo me diz que é bem superior aos ditos 61K's... Mesmo estando parada o tempo que esteve - que é a morte de muito bom carro - o desgaste que ela tem em certos componentes (tapetes, volante, manete das mudanças) denunciam os muitos maus tratos que ela suportou. >:D

A chapa, a olho nu, e sem a começar a descascar a tinta, só tem podres no friso da mala, nas embaladeiras e na torre do amortecedor dianteiro esquerdo. O que se pode esconder debaixo, só mesmo quando a pele velha começar a sair.
Uma mente livre está aberta a novas ideias.

qyron

Desculpem lá o desabafo no título, mas ando um bocado FU da vida à pesca de pneus para a carrinha. Pneus e jantes.

Como a carrinha tem dois pneus completamente acamados e os que ainda têm ar estão completamente ressequidos, tenho de lhe trocar os "sapatinhos" para me sentir à vontade para a poder fazer mexer para um lado e para o outro na oficina. Além do mais, não quero arriscar a forçar (mais do que já está) a suspensão e a direcção.

O grande problema é que pneus na medida que ela calça (155 SR R12), quando vou a uma casa a reacção que obtenho do vendedor é um olhar de olhos esbugalhados seguido da estúpida pergunta "O quê?".
Até agora, só encontrei 2 casas que me podem encontrar este pneu; uma perto de casa, que é para encomendar e chega quando chegar (mínimo 3 a 4 meses) e outra que me arranja os pneus naquela medida, mas apenas comerciais e não de turismo.

Ao mesmo tempo que comecei a ouvir esta música, comecei a pensar que seria mais simples trocar as jantes para 13'', indo de encontro à medida máxima que a Nissan está correntemente a homologar para o 120Y (165/60 R13), porque aí seria muito mais fácil e barato calçar a carrinha, mas estou a bater com o nariz nas portas porque a carrinha tem furação japonesa (se não me falta a memória 4/100) e essa medida é "mais rara que dentes em galinha" para citar um vendedor... Ou só por encomenda do Japão, para citar outro.  :wall Ora abóboras.

Neste momento só preciso de umas jantes de ferro normalíssimas para poder ter a carrinha em condições mínimas de poder trabalhar nela. Mas abrir a carteira para gastar €265 num jogo de 5 pneus que não podem equipar a carrinha para ir a um IPO é deitar dinheiro fora.

Alguém me pode indicar onde arranjo umas jantes 13'', em ferro, para a calçar?

Uma mente livre está aberta a novas ideias.

prelude guy

Tem calma  :D

Há jantes de 13'' aos montes. A furação é 4 * 114,3 (e não 4*100, que daria para alguns japoneses, como a Honda, e também Opel, VW, BMW...).

A 120Y que esteve na feira nas Caldas tinha pneus 12'' novos e acabadinhos de meter...  :assobio
Toyota Celica 1973 vs. Honda Prelude 1982
Luís Duarte (Associado AJA #25)

Umtali

Tanto fumo para tão pouco fogo ...   :duh:

Jantes para Datsun 120Y não faltam por aí e a furação é como diz o PreludeGuy : 4 x 114,3  :thumbsup

Tenho 4 jantes pertences ao Datsun 1200 decapadas e zincadas, prontas a pintar. Pneus 12" ainda se arranjam com alguma facilidade e a bom preço (amanhã posso perguntar ao meu fornecedor) e o Doscapuzes também te pode ajudar certamente ...  :thumbsup


PS - acho que andas a falar com as pessoas erradas  :redface
João Freire - Sócio AJA nº 11

Bruno Pereira

isso dos pneus nao e preocupação, os chineses agora tem as medidas todas a muito bom preço.
nao me perguntem a qualidade, todos ja sabemos como é:)
Honda the powers of dreams ;)

Helder Nuno

Pneus para jante 12", não são problema, há uns meses comprei 4 para a minha 120Y, encomendei num dia, no dia seguinte já estavam a ser montados nas jantes.

Como o Bruno Pereira disse, "...os chineses agora têm as medidas todas..."